O Brasil está entre os três maiores mercados de produtos PET do mundo, atrás apenas dos EUA e da China. O mercado de alimentos para PET, por exemplo, alcançou marcas expressivas em 2020 com faturamento próximo a 22,3 bilhões de reais e possui previsões ainda mais otimistas para 2021. No início dos anos 2000 foi possível observar um avanço no número de lojas específicas para ofertar produtos aos animais de estimação. Houve assim, um aumento de serviços, artigos, insumos veterinários, alimentos e petiscos destinados a esse setor.
Os tutores já não dão mais restos de alimentos aos seus animais que passaram a ter alimentos próprios, feitos especialmente para eles, com equilíbrio nutricional, específicos para a faixa etária ou para aqueles que possuem algum distúrbio de saúde ou condição especial que necessite de uma dieta equilibrada, tudo saboroso, de diversas formas, repleto de vitaminas para uma vida longa, saudável e feliz ao lado de seus tutores.
Comidas secas, comidas úmidas, semi-úmidas, fibrosas, couros saborizados, petiscos com recheios enfim, independentemente do tipo de alimento escolhido ou mesmo indicado para um PET, todos seguem regras rigorosas em sua fabricação. Assim como os alimentos humanos, os alimentos industrializados para animais possuem legislações próprias quanto a padrões sanitários, de identidade e qualidade e são regulamentados e monitorados por órgão responsável. As legislações desse setor não são poucas e podem ser facilmente acessadas no site do governo, MAPA.
Seguindo a tendência do mercado de alimentação humana, o mercado PET vem se direcionando para uma alimentação mais saudável e sem químicos. Como observamos, a alimentação PET saiu de uma dieta de sobras de alimentos para um mercado de produtos industrializados e altamente processados, apresentando a vantagem de possuir o equilíbrio nutricional desejado. Contudo, a constante preocupação com a saúde animal e o acesso a informações levou seus tutores a serem mais exigentes e criteriosos em relação aos alimentos que seus animais consomem. Um sachê de marca comercial para gatos, por exemplo, chega a conter mais de 25 ingredientes, sendo grande parte desses desconhecidos ao uso comum e com nomes complexos como xilitol, glicinas, estabilizantes como tripolifosfato de sódio, entre outros. Automaticamente, esse público começa a buscar produtos alternativos para seus animais, com rótulos mais limpos, com ingredientes mais naturais e conhecidos. Grandes redes de venda online de produtos PET já ofertam uma grande variedade de alimentos com alegações de naturais, sem aditivos, sem conservantes e até mesmo veggies, isso mesmo, o mercado vegano para PETs também está em ascensão.
Com todo esse movimento de saudabilidade atrelado a redução de aditivos, surgiu um mercado paralelo, o do ”faça seu PET FOOD”. Aulas online, e-books com dezenas de receitas começaram a ensinar a população a fazer petiscos para seus queridos PETs sem os temidos ingredientes ou aditivos com nomes incomuns. Como um negócio incentiva o outro, muitas pessoas observaram que esse poderia ser um ótimo mercado para gerar renda. O problema era que a legislação vigente exigia liberação e registro no MAPA e assim a situação se complicava, burocracia e gastos extras para quem quer começar um negócio não são atrativos a um microempreendedor. Como um negócio incentiva outro, foi regulamentada no início desse ano uma nova portaria, que abrandou os esquemas burocráticos e estabeleceu níveis de classificação de riscos para as atividades econômicas dependentes de liberação do MAPA, a PORTARIA Nº196. DE 08 DE JANEIRO DE 2021. Resumindo, essa portaria dispensou de liberação por ato público as cozinhas industriais caseiras, padarias e assemelhados que elaborem e comercializem alimentos para animais de companhia. Isso é um grande estímulo ao setor por gerar competitividade entre marcas, estímulo ao desenvolvimento de novos alimentos, oportunidade de renda e oferta de mais variedades de produtos nesse setor.
Quando a legislação cita cozinhas industriais, padarias e assemelhados, não está dispensando esses locais de regulamentação, somente abranda processos burocráticos. Um microempreendedor, por exemplo, fabricante de alimentos destinados a alimentação humana não está desobrigado de cumprir regras sanitárias e de padrões de identidade e qualidade, assim também é para fabricantes de alimentos para animais de companhia. A própria portaria cita em um de seus incisos, do artigo 4, que a liberação concedida não exime o estabelecimento de cumprir as normas aplicáveis à atividade econômica, nem tampouco afasta a sujeição à exigência de adequações pela Secretaria de Defesa Agropecuária em fiscalizações posteriores. Portanto, o abrandamento na legislação para estimular um nicho econômico não significou um afrouxamento das regras. Trabalhar com alimentação, independente se humana ou animal, é de extrema responsabilidade e necessita de conhecimento e acompanhamento das regras regulatórias impostas.
A INSTRUÇÃO NORMATIVA nº 09 de 09 de julho de 2003 apresenta os padrões de identidade e qualidade de alimentos completos e especiais para cães e gatos. A diferença na digestibilidade e metabolismo entre humanos e animais faz com que as características de composição sejam descritas de formas distintas. Enquanto para humanos temos uma tabela nutricional que inicia indicando a quantidade calórica, a tabela de alimentos para animais apresenta umidade, proteínas, extrato etéreo, entre outros, sendo que cada um desses possui níveis de tolerância a serem seguidos e podem mudar de acordo com a espécie do animal, faixa etária ou tipo de alimento ofertado, seco, semi-úmido ou úmido. Outra diferença também relacionada a digestibilidade são os ingredientes e aditivos liberados para uso. Alguns ingredientes inofensivos para os humanos podem ser extremamente tóxicos para os animais, podendo causar problemas renais, digestivos e até a morte. Portanto, se torna primordial conhecer os ingredientes e aditivos autorizados e até mesmo os proibidos.
Conhecendo os ingredientes permitidos é simples fabricar um PET FOOD mais natural e saudável. Essa afirmativa pode até ser verdadeira para quem faz um petisco para seu próprio animal, para consumo imediato. Agora, quando pensamos em comercializar um alimento a história é um pouco mais complicada pois os alimentos precisam suportar, sem efeitos impactantes em suas características sensoriais, todo o processo de logística entre sua fabricação e o consumidor final, podendo ser esse tempo relativamente alto. Sem contar outras características que se deseja realçar no alimento, como cremosidade ou crocância, cor ou sabor que fazem da maioria dos alimentos industrializados alcançarem um nível diferenciado em relação a receitas caseiras. A única afirmação certa, nesse caso, seria a de que é praticamente impossível alcançar todas essas características sensoriais e de qualidade sem a aplicação de aditivos.
Assim chegamos a um grande impasse, usar aditivos e agregar valor sensorial e tecnológico ao alimento ou optar pelo mais saudável e rótulo limpo? Para uma questão tão divergente a resposta é simples, deve-se conhecer a fundo os ingredientes e aditivos permitidos porque a tecnologia e saudabilidade precisam andar juntas e desenvolvedores de novos produtos precisam identificar quais ingredientes apresentam essas duas qualidades e fazer disso sua ferramenta de inovação e crescimento no mercado. Um exemplo é a fécula de mandioca, ingrediente conhecido comercialmente como polvilho doce, que é um excelente espessante e não possui químicos adicionados em sua industrialização. Oriundo apenas da extração física do amido da mandioca, esse ingrediente aumenta viscosidade, auxilia na hidratação de um alimento sendo até um bom substituto de gordura, melhora o rendimento, além de ser livre de glúten e facilmente disponível no mercado sem transgenia. Em biscoitos, a fécula atua como agente ligante, deixa os biscoitos leves e com muita crocância, do jeito que PETS adoram. Seu uso, em algumas aplicações, pode reduzir ou até mesmo excluir o uso de outros aditivos espessantes com alegação química.
Abaixo é apresentada uma receita de um PETISCO VEGANO PARA CACHORRO, com Fécula de Mandioca e um ingrediente CLEAN LABEL, o OVAPROX F. É importante ressaltar que qualquer produto ao ser colocado no mercado deve ter uma avaliação nutricional completa dentro dos padrões de identidade e qualidade, para facilitar aos tutores e veterinários o controle da dieta de cada animal.
A Amidos Mundo Novo, fabricante de féculas e amidos modificados derivados da mandioca, apresenta uma listagem dos seus ingredientes que são liberados para uso em alimentos para animais. Primeiramente é preciso compreender que os amidos podem ser in natura ou modificados e que, a modificação tem o objetivo de agregar alguma funcionalidade ao ingrediente, como estabilidade, entre outros. Existe mais de uma rota de modificação, podendo ser via química, física ou enzimática, sendo essas duas últimas mais brandas e caracterizando os ingredientes como mais próximos ao natural que os modificados por rotas químicas. Nesse contexto, as Dextrinas e Maltodextrinas podem ser modificadas tanto por via enzimática quanto química. Outro exemplo é o OVAPROX F, ingrediente da linha CLEAN LABEL dessa mesma empresa, que substitui ovos em receitas de panificação, que é formado por ingredientes aptos a alimentação humana e animal e que não possui qualquer tipo de modificação química. Existem também amidos com modificações químicas permitidos que são excelentes estabilizantes, conferem alto brilho a cremes e boa viscosidade. Diante de tantos ingredientes, portanto, cabe a cada desenvolvedor avaliar a melhor alternativa para sua aplicação, conforme a característica e apelo que deseja agregar ao seu produto.
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Estimulado por uma legislação mais atenuada que incentiva o acesso de pequenas e médias empresas a este ramo, o mercado PET FOOD apresenta grandes perspectivas para os próximos anos. Para antigos ou novos empreendedores, agregar tecnologia e saudabilidade será a resposta para o sucesso, compreender que essas características não são opostas e que conhecer cada ingrediente e suas aplicações permitirá uni-las como solução. Trabalhar com alimentos é reinventar-se constantemente, é buscar soluções novas para velhos e novos mercados, é ofertar acima de satisfação e nutrição, cuidado a quem nos é especial.